A agressividade das crianças de hoje é um tema que preocupa pais e educadores, levantando muitas questões sobre a sua origem. Será a televisão? Os jogos? As famílias? As escolas? Facto é que, independentemente do peso dos diferentes factores que podemos considerar, é tempo de reflectir sobre possíveis soluções.
Se é verdade que se pode constatar a existência de um maior nível de agressividade nas crianças, também o observamos nos jovens e adultos. Há efectivamente uma correlação entre o comportamento das crianças e dos adultos que são figuras de referência: pais, outros familiares, vizinhos, professores ou auxiliares de acção educativa. As crianças tendem a replicar os comportamentos observados e, se virem frequentemente os pais a discutirem entre si, ou a reprimirem as suas ‘traquinices’ com agressões verbais ou físicas, é natural que também elas adoptem posturas mais agressivas nos diferentes contextos de interacção.
Face a uma aparente menor capacidade das crianças em gerir as suas emoções, torna-se fundamental que os pais passem algum tempo de qualidade com as crianças, conversando e brincando, valorizando os pequenos e grandes sucessos de cada dia, motivando-os para enfrentarem os novos desafios do dia seguinte, com alegria. Se o ambiente envolvente cultivar emoções positivas (alegria, satisfação nas diferentes actividades, humor, bem-estar, calma, amor), certamente as crianças estabelecerão relações mais gratificantes e positivas com reflexo no comportamento e nas brincadeiras estabelecidas.
Por outro lado, as crianças da sociedade ocidental passam um grande número de horas diárias em frente à televisão/computador/ videojogos, o que tem sido apontado como actividades que promovem a agressividade. Tal ocorre quando estas ‘actividades’ não são devidamente acompanhadas, pois há bons programas de televisão, tal como jogos, do ponto de vista pedagógico. È importante que os pais acompanhem este visionamento e seleccionem a programação, ou jogos – de modo a poderem verificar o nível de agressividade dos mesmos, explicarem e reformularem as situações a que as crianças assistem, ajudando-as assim a desenvolverem a capacidade de lidar com situações tensas ou agressivas.
O facto de as fratrias serem mais pequenas, de haver menos convivência com a vizinhança, e das famílias terem menos tempo, leva a que estas optem por deixar as crianças mais tempo a ver televisão, no computador ou a jogar consolas e, assim, a isolarem-se mais, com impacto no seu desenvolvimento psicossocial. Poderá ser útil repensar o tempo dispendido com este tipo de actividades, deixando mais tempo de qualidade com os pais e de actividades recreativas com os seus pares.
As actividades recreativas, de modo geral, ajudam a uma maior gestão da agressividade que existe em todos as crianças, já que gastam alguma energia e libertam tensão, para além de cultivarem emoções positivas. Para este fim, poderemos considerar os desportos colectivos como o futebol ou o basquetebol – que ajudam a criança a desenvolver competências sociais, já que são estabelecidas normas a serem cumpridas e se cria o espírito de grupo, cuja coesão e respeito são fundamentais para o sucesso da equipa – ou actividades ligadas às artes: pintura, música ou dança, que apelam para a criatividade, que lhes permite alargar o seu reportório de comportamentos, bem como encontrar diferentes formas de lidar com as tensões emocionais. Com os seus pares, as crianças facilmente encontram brincadeiras de ‘faz de conta’ que lhes permite entrar numa realidade mágica onde poderão desempenhar diferentes papéis e encontrar um novo mundo de possibilidades para as diferentes situações.
Da parte dos pais, as crianças necessitam de todo o afecto e de pontos de referência. São estes que estabelecem os limites e que muitas vezes, não obstante o amor sentido, têm de dizer não (e nem sempre é fácil encontrar uma forma adequada de o fazer). São os pais que lhes ensinam o que é amar – e este é um sentimento que não se faz de bens materiais (prendas ou brinquedos) ou de maior nível de cedência com as exigências dos mais pequenos. Os pais que pretendem capacitar os filhos para uma maior gestão das emoções sabem que não são os brinquedos ou chocolates que irão ajudar os seus filhos, mas sim a sua atenção, disponibilidade e afecto, bem como firmeza quanto a limites, explicando o porquê dos princípios, partilhando as suas próprias histórias e sentimentos, transmitindo valores.
É muito importante uma relação de compreensão dos pais, estabelecendo limites com afecto – em vez de agredir verbalmente “és sempre assim! Não fazes nada de jeito”, porque não dizer “a mãe ficou triste com a tua atitude, gostava de perceber porque estás a ter este comportamento. Queres que te ajude a procurar comportamentos alternativos para a mesma situação?” ou “peço desculpa por me ter exaltado, mas fiquei muito magoado com o teu comportamento, porque sou teu pai e gosto de ti. Vamos procurar soluções em conjunto para esta situação?” ou “Não te deixo ir brincar para casa de vizinha esta tarde porque queremos estar hoje contigo, para conversarmos um pouco sobre a tua semana.”. Se os adultos mostrarem às crianças formas adequadas de lidar com o desacordo, o desapontamento, a zanga ou tristeza, elas irão replicá-lo, já que todos são excelentes aprendizes a este nível!
Para além da relação estabelecida com os pais, é fundamental para a criança ter espaço para correr e saltar, andar de bicicleta ou de skate, cair e sujar-se e, claro, brincar com outras crianças e conseguir rir muito todos os dias.
Referências Bibliográficas: Brazelton, T. B. (1995). O grande livro da criança. Lisboa: Presença. Lourenço, O. (1992). Psicologia do Desenvolvimento Moral: Teoria, Dados e Implicações. Livraria Almedina. Marujo, H. Á., Neto, L. M., & de Fátima Perloiro, M. (2002). Educar para o optimismo: guia para professores e pais. Presença. Vandenplas-Holper, C., & Abreu, M. P. V. (1983). Educação e desenvolvimento social da criança. Livraria Almedina