Depressão – Um Desafio às Emoções

Todos nós temos momentos em que nos sentimos tristes, ansiosos, irritados ou desesperançados. Muitas vezes, tal decorre de uma situação difícil como a sensação de não ter atingido um objectivo profissional ou académico, o fim de uma relação, a morte de um ente querido, desemprego, etc. De forma geral, as pessoas passam uma fase de tristeza, mais ou menos profunda, e acabam por reorganizar as suas emoções e voltar ao seu nível médio de bem-estar. Contudo, há situações em que estas emoções persistem ao longo do tempo, impedindo uma adaptação às exigências do quotidiano e acabando por ter um impacto no bem-estar individual, nas relações pessoais, bem como no desempenho das actividades profissionais e/ou ocupacionais. Nestas situações, com ou sem motivo identificado, a tristeza pode estar a dar lugar a uma depressão clínica (Kandhelwal, 2001).

O que é a Depressão?

Como nos alerta a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Depressão Clínica é uma doença bem definida do ponto de vista médico, cujos sintomas são intensos, prolongados no tempo e interferem nas actividades diárias dos indivíduos (Kandhelwal, 2001). Os sintomas passam por alterações no apetite ou peso, sono e actividade psicomotora, diminuição da energia, sentimentos de desvalorização pessoal ou culpa, dificuldades em pensar, concentrar-se ou em tomar decisões, pensamentos recorrentes a propósito da morte ou ideação, planos ou tentativas suicidas – em que 4 sintomas adicionais, presentes em todos os dias num período mínimo de duas semanas consecutivas, poderão levar a um diagnóstico de depressão major (DSM IV, 2002).

Há vários tipos de depressão, podendo ser de maior gravidade (com um ou mais episódios em que a depressão é intensa, e se torna incapacitante), distímica ou crónica (com menor intensidade, mas mais duradoura) ou ligeira (menor intensidade e persistência dos sintomas). Em qualquer das situações, a procura de ajuda de um profissional de saúde mental é fundamental. A brevidade nesta procura poderá prevenir situações de maior gravidade – quanto mais cedo se recorrer a uma psicoterapia ou terapia farmacológica (com apoio de médico psiquiatra), menores serão os danos para a vida das pessoas.

Mas afinal, porque surge a depressão?

A depressão é multifactorial, ou seja, não depende de um único factor. Sabe-se hoje que 20 a 45% das depressões mais ligeiras tem uma base de predisposição genética, e que maior será a proporção para depressões de maior gravidade (Lyubomirsky, 2008) contudo, naturalmente que o facto de haver uma predisposição, tal não é determinante: mesmo perante uma situação de maior exigência emocional, podemos procurar desenvolver estratégias de prevenção (e de tratamento, no caso de estarmos deprimidos).

Um factor relativamente consensual entre diversos investigadores, prende-se com a forma como encaramos a vida. Aaron Beck, uma referência no estudo da depressão, considera que de algum modo nos tornamos mais vulneráveis à depressão quando, perante acontecimentos negativos, tendemos a ter atitudes disfuncionais, geralmente relacionadas com uma noção errónea de que a nossa felicidade e auto-estima dependem de fazermos tudo perfeito ou da aprovação dos outros (Lyubomirsky, 2008). Seligman, um dos fundadores da Psicologia Positiva, fala de um estilo explicativo pessimista de tudo o que nos acontece na vida, tornando-nos mais negativos, críticos, desesperançados, e vulneráveis à depressão. Estas ideias estão de acordo com os estudos de David Burns (1999) que deixam claro que as emoções resultam da forma como se olha a realidade, dos nossos pensamentos, já que, dado o funcionamento do nosso cérebro, precisamos de compreender os eventos, dar-lhes um significado, antes de os sentir.

Como enfrentar a depressão?

Perante uma depressão, e como já foi referido, é fundamental recorrer a um profissional de saúde mental (psicólogo clínico ou psiquiatra). Hoje em dia há dados concretos sobre os benefícios de uma psicoterapia (que deve ser levada até ao fim, e não apenas até à remissão dos sintomas mais incapacitantes!).

Cada pessoa tem a sua maneira de estar na vida e, naturalmente, estratégias que servem para algumas pessoas, não ajudam outras. Por exemplo, há pessoas que se sentem muito bem em actividades de voluntariado, de apoio à comunidade, e outras não. O mais importante é perceber quais as estratégias adaptadas a si. Ficam algumas estratégias que têm ajudado algumas pessoas, em situações de depressão (adaptado de Jackson-Tiche & col, 2003):

  • Manter um horário regular dos sonos (criar rotinas nas horas de deitar e levantar)
  • Fazer exercício físico (moderado e de acordo com a preparação física de cada um)
  • Prática espiritual (se é religioso, vá mais vezes (ou regresse) à sua igreja ou local de culto)
  • Técnicas de Relaxamento (meditação, momentos de respiração profunda, etc têm sido considerados pela comunidade científica como uma excelente ajuda!)
  • Evitar ficar sozinho por períodos demasiado longos (mais uma vez, de acordo com o que considerar “demasiado longos”)
  • Fazer uma alimentação saudável e regular (nas depressões, não raras vezes a alimentação é descurada, procure manter um equilíbrio a este nível)
  • Evitar álcool e drogas (o risco de abuso aumenta nestas fases)
  • Se está a fazer uma terapia (psicológica ou farmacológica), cumpra com as consultas e siga o que for acordado com o seu terapeuta ou médico.

Como promover o meu bem-estar, se não estou deprimido?

Sabendo que, de acordo com a OMS, 8 a 20% das pessoas correm o risco de desenvolver uma depressão ao longo da vida, o melhor é mesmo todos nós apostarmos na prevenção da depressão e promoção do nosso bem-estar e felicidade!

Neste sentido, procure manter uma rede social alargada e fazer actividades que goste. Passear, ir ao ginásio, ao cinema, jantar com amigos, ou brincar com os seus filhos! Procure criar, no seu quotidiano, formas de contribuir para o seu bem-estar, criando momentos gratificantes. Aprecie e valorize cada momento positivo da sua vida!

Por outro lado, estarmos envolvidos em actividades que nos dêem algum sentido para a vida, ajuda-nos muito a evitar uma depressão: através da religião, voluntariado, família, ou um projecto que tenha já em mente. Este envolvimento pode não implicar um momento de alegria, mas a felicidade é mais do que isso! Sentirmo-nos envolvidos naquilo que fazemos, e com um sentido para o nosso percurso de vida pode ajudar-nos a manter uma sensação de vida plena.

Um dos grandes factores protectores do nosso bem-estar é sem dúvida cultivar o optimismo. Procurar as soluções e os recursos que todos temos nas nossas vidas, mais do que criticar, comparar com os outros, ou prever o pior! Se procurarmos alternativas, e gerirmos as nossas expectativas (poucas coisas correm de modo excelente, de acordo com o ideal por vezes irrealista, mas podem sempre correr bem!), maior capacidade teremos para apreciar os pequenos momentos e abraçar a vida com vontade de continuar para a frente.

 

Referências Bibliográficas: 
Burns, D. (1999). Feeling Good – The New Mood Therapy. Avon Books. 
DSM-IV-TR (American Psychiatric Association). Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. Climepsi Eds. 
Jackson-Triche e col. (2003). Vencendo a Depressão – a Jornada da Esperança. M.Books. 
Khandelwal, S. (coord) (2001). Conquering Depression. World Health Organization. 
Lyubomirsky, S. (2008). La ciência de la felicidad. Ed. Urano.
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